GVT começa 'prova de fogo' em São Paulo
Após anos de espera, operadora se instala em quatro bairros da capital e deve lançar planos nas próximas semanas
Expansão na cidade é essencial para empresa, que esteve à venda; analistas veem risco de queda na qualidade
MARIANNA ARAGÃO
JULIO WIZIACK
DE SÃO PAULO
Expansão na cidade é essencial para empresa, que esteve à venda; analistas veem risco de queda na qualidade
Chegou a hora do grande teste da GVT. Após anos de espera, a operadora de telefonia, internet e TV começou a se instalar em São Paulo.
Nas próximas semanas, ela lançará os seus primeiros planos para competir principalmente com a Telefônica, que tentou comprá-la em 2009.
A rede da GVT foi instalada em quatro bairros de São Paulo e dois serão os primeiros a ter o serviço. Os pacotes de internet terão, no mínimo, 50 Mbps (megabits por segundo) de velocidade real, oferta exclusiva para a cidade.
"Não teremos uma segunda chance aqui", disse Amos Genish, presidente da GVT, em entrevista à Folha. "Tem de dar certo."
A entrada em São Paulo ocorre em um momento de incertezas. Até o fim de março, a francesa Vivendi, que controla a GVT, tentava vendê-la. O negócio não deu certo, e, como a Vivendi está se desfazendo de outra empresa na África, a Maroc Telecom, decidiu manter a GVT, a mais rentável do grupo.
"São Paulo será fundamental para continuarmos com uma operação de qualidade ao assinante e retorno ao acionista", disse Genish. "A ideia agora é apresentar a marca na cidade e começar o serviço. Queremos ser uma alternativa de qualidade."
RISCO
Para isso, a GVT pretende expandir sua rede à medida que os clientes forem migrando para a empresa.
Analistas consideram o risco de que, caso essa expansão demore demais, o consumidor --à espera da operadora há muitos anos-- seja frustrado, provocando um dano à imagem da empresa.
"A tendência é que muitos clientes migrem para a operadora. A rede deve ficar mais cheia e a qualidade deve cair um pouco", diz Marceli Passoni, analista da Informa Telecoms & Media.
Genish afirma que isso não ocorrerá. O plano é investir R$ 400 milhões na construção da rede de fibras ópticas, conectando cerca de 210 armários (centrais) na cidade.
Essas centrais se espalharão por bairros como Bela Vista, Jardins, Vila Mariana, Moema, Higienópolis, Pinheiros e Vila Madalena.
Com essa infraestrutura, será possível atender até 1 milhão de clientes. Mas, nessa fase inicial, a GVT prevê 300 mil assinantes com planos de telefonia fixa, internet e TV (via internet).
COMPETIDORA
A GVT foi criada em 2000, após a privatização do sistema Telebrás como "espelho" da Brasil Telecom, concessionária que atuava no Sul. O modelo previa espelhos em todas as regiões do país. A GVT foi a única sobrevivente. As demais quebraram ou foram adquiridas.
Em 2009, a companhia foi alvo de uma disputa entre a Telefônica e a francesa Vivendi, um dos maiores grupos de mídia do mundo. Os franceses pagaram R$ 7,2 bilhões pelo controle. No ano passado, colocaram a operadora à venda por R$ 19 bilhões.
Hoje, a GVT tem 8% do mercado nacional de telefonia fixa e 11% de participação em banda larga (em número de clientes) e atua em 139 municípios --principalmente no Nordeste, no Centro-Oeste e no Sul, onde compete com a Oi (concessionária).
Com uma rede construída com fibras ópticas chegando mais perto da casa do cliente, a GVT conseguiu entregar velocidades de internet acima dos planos da Oi, a preços inferiores.
Quando chegou a Salvador, em 2008, a GVT ofereceu pacotes de internet de 10 Mbps por R$ 60. A Oi mantinha planos de 1 Mbps por R$ 120. Em Belo Horizonte, a situação se repetiu. Em dois anos, a GVT tomou da Oi 365 mil clientes nas duas cidades.
Para os analistas, competir em São Paulo não será tão fácil. A Telefônica tem uma rede de fibras ópticas passando na porta de mais de 500 mil domicílios, e outras operadoras, como a TIM (com a LiveTIM), também avançaram levando a fibra até mais perto do cliente.